segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Caçador de Pipas (não podia deixar de comentar)

>>Embora o protagonista do livro seja Amir, o nome dado ao romance é uma característica de Hassan, o seu amigo e empregado, ou talvez, empregado e amigo, como parece ser algumas vezes. Amir, o menino rico, conhecedor das letras e seu amigo Hassan, menino pobre, ignorante, porém muito sábio e, principalmente fiel viviam juntos, mas algo os separava:


"É uma coisa perigosa nascer". (Rahin Khan)

... nascer não é apenas vir ao mundo, encher de alegria uma casa, e, muito menos ter o mundo ao seu dispor. Quando nascemos, nós é que estamos a disposição do mundo, da vida, das pessoas...Nos é dada desde a concepção uma grande responsabilidade de ir cultivando o que seremos. E Amir Jan cultivou por muito tempo, o remorso de talvez ter matado sua mãe. Por que ela precisou morrer para que ele nascesse? Por que seu pai parecia não admirá-lo? Por que Hassan, apesar de ignorante e pobre era tão querido?


"Eu comeria terra por você, mas você me mandaria comer terra?" (Hassan)

Hassan a todo tempo demonstrava a Amir amizade fiel, mas, mais do que isso: demonstrava ser um empregado fiel! Amir por vezes se torturava por imaginar as coisas que seria capaz de fazer. A lealdade de Hassan chegava a incomodá-lo, por saber que não conseguia estabelecer a reciprocidade que seu amigo merecia. Amir não era um menino mau, mas, como quase todos nós, não era capaz de se desfazer de alguns conceitos e atitudes que sua posição cultural lhe impunha.

"Por que ele apenas não cortou uma cebola, ao invés de matar sua esposa, Amir?(Hassan)

Há várias possibilidades de resposta para essa pergunta, Hassan: Primeiro, Amir tinha alma de escritor, de contador de histórias. E contador de história não se contenta com soluções simples, a não ser que a simplicidade seja tão desconcertante a ponto de se fazer espetacular. E segundo, ter como motivo de lágrimas o corte de cebolas, não seria algo que viria da mente de um menino como Amir Jam. Ele era vitma da vida e não se permitia pensar que os outros também não pudessem ser. Ele, sempre pensou, por exemplo, que você fosse uma vitma de sua descendência: um menino ignorante, que não teve o direito de ir à escola, de ter sua própria vida independente de patrões, etc. Então Hassan, não precisa achar que seu amigo tem uma mente assassina, é só um escritor, e escritor é sempre um sofredor...rsrrsrs

O climax: O grande drama do livro acontece naquela tarde, quando Hassan decide ir buscar para o amigo a ultima pipa que ele conseguira derrubar. E ali se cumpriu o que nenhum dos dois gostaria que acontecesse, mas que ambos saberiam que poderia ocorrer: Amir permitiu que Hassan comesse terra por sua causa... a culpa, a humilhação, a mentira, o egoismo... muitos sentimentos surgiram a partir daquele momento, que fez com que aqueles meninos não passassem desde então a serem apenas patrão e empregado. Relação que só veio mudar no final do livro após a morte de Hassan...


>> A leitura nos faz sair do nosso mundinho e nos permite conhecer outras culturas, outras formas de pensar e descobrir que ha pessoas que pensam como nós, mesmo formulando seus conceitos com outras definições. Parabéns Kahled Hosseini!

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