quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Crônica de uma morte (não) anunciada




Essa semana, mais precisamente na terça feira, fui surpreendida por uma fato que, embora não tenha tirado a minha paz, me deixou P da vida. Fui roubada na minha própria casa. Num primeiro momento achei que apenas meu celular tivesse sido levado...só no outro dia me dei conta que a grill da minha mãe também havia partido...rs (seria cômico se não fosse trágico).


Bom, o fato é que hoje me lembrei de uma crônica feito por uma amigo meu quando ele também teve que dar adeus a seu celular. Achei espetacular a forma como ele usou as palavras apenas para dar essa notícia. Segue abaixo o texto...e quando eu tiver um novo número de celular aviso a vocês.


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Estávamos os dois. Relacionamento tranqüilo. Não nos incomodávamos. Ajudávamos mutuamente. Cada qual segundo a sua espécie. Espécie e modus vivendi.
Se dele eu precisava, ajudava-me, sem questionar. Embora frio, era sempre solícito ao mais leve toque, à mais sutil indicação, à mais simples demanda. Não media distâncias nem arrolava dificuldades em questões laborais que lhe eram próprias. Em diversas circunstâncias, esteve ele a meu serviço e em meu auxílio; obviamente consideradas as suas possibilidades.
Eu, por minha parte, dele sempre o assistia. Mantinha-o devidamente abastecido. Não excessivamente, para que o se não aguçasse a dominação; ou que pudesse ser entendido, talvez, que a criatura fosse possuidora do criador. Também não em tamanha parcimônia, que se pudesse assemelhar à mesquinhez vulgarmente chã e vã, própria dos espíritos menores.
Creio que comedido, talvez.
E como dizia os mais antigos, e os nem tão antigos assim, “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”; ditado este ao qual acrescento, nesse ínterim, o comedimento, quiçá contribuindo para a riqueza das nossas semânticas populares (ou popularescas... Fica a teu critério).
Dize-se que conquistamos nossa liberdade à medida que fazemos o que não queremos; mas o que devemos fazer, pelo fato de termos a obrigação de fazê-lo. E assim, nosso cotidiano era preenchido pelo mútuo cumprimento de nos ajudar, ambos, cada qual à sua maneira e obrigação. Conquistamo-nos nossa mútua liberdade.
Não digo que era uma relação afetiva. Longe disso. Mas uma troca de favores na qual ambos saíamos ganhando. Eu, pelos seus préstimos; ele, pela solicitude com a qual o tratava. Em dadas situações, diria mesmo que o fazia literalmente “energizar”; noutras, reabastecia-o. Não de acordo com suas necessidades; que confesso, não eram muitas. Poucas, até. O fato é que as suas eram minhas as condições; assim, mesmo paradoxalmente, vivíamos em harmonia. Ele muito mais a meu serviço e dispor, do que eu às suas expensas.
Notadamente, como diz o poeta, “tristeza não tem fim. Felicidade, sim”, nosso acordo, que um dia teve um começo, parecia não ter meio, mas teve um final. Não melodioso, canoro, sofrido, próprio daqueles cujo enxugar de lágrimas costuma vir acompanhado de choro e ranger de dentes. O que a nós nos ocorreu foi um rompimento abrupto, inopinado, repentino, inusitado... Porém silencioso. Sem mágoas, sem saudades, sem resquícios nostálgicos de momentos não vividos. Apenas o silêncio.
Contrariamente ao que a nós todos se configura de modo tão comum, oxalá prosaico, devo dizer que me vi impulsionado a substituí-lo trivialmente por outro. Se nas relações mais propriamente humanas esses atos e fatos não sejam corriqueiros para edificações inter-relacionais mais ortodoxas (e talvez até mais desejáveis, num contexto tão conturbado, num mundo que “anda tão complicado”, como dizia Renato Manfredini Júnior), devo afirmar que tal permuta não nos causou, nem a mim nem a ele, a menor das incongruências, o mais leve e sutil rancor, um restolho sequer de animosidade, menos ainda alguma nesga de hostilidade.Desligamo-nos da mesma forma como começamos: silenciosamente. Cada qual seguindo seu curso. Ele, muito provavelmente, noutras paragens.




(Cazeles Leite)




*Ele é ou não é d+? Mas não precisa medir sua habilidade com a sua língua materna pelo tanto de vezs que você teve que abrir o dicionário para entender o texto...sem "grilos" ok?rs




Sem mais...

2 comentários:

Mari disse...

Meu comentário segue-se por duas partes, como o seu texto.

No primeiro, solicito-me com vc: é uma merda trabalhar e trabalhar pra ter as coisas e perde-las para alguem que nem tem noção do q seja isso... uma merda mesmo!

No segundo... ave maria!!!! Fiquei o tempo todo tentando imaginar quem teria sido o autor... e no fim, não me surpreendi... só podia ser ele mesmo... kkkkk... Tenho é q mandar um scrap pra Cazeles parabenizando-o!!!! rs...

bj!

Cazeles disse...

Esse texto do celular perdido é realmente muito bom.
Espetacular.

Bom, como fui eu mesmo quem o escreveu, sou um pouquinho suspeito pra avaliá-lo. (rsrs...)